terça-feira, 6 de novembro de 2007

Herói desprezado

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Ele tem aquele jeitão sereno caipira e lida esforçada de trabalhador do campo. Tá, tem sangue frio também de jagunço matador, e é isso que poderá salvar seu Corinthians da degola. E, melhor que isso, diferente de alguns companheiros cheios de marra e provocações, o cara tem olhos e palavras de bom caráter. Finazzi fez quatro gols nos últimos 3 jogos do time. Três deles garantiram pontinhos salvadores. Só que o cabra, mesmo fazendo gols quando a casa já tinha caído, não é querido pela Fiel. Hora de repensar quem vocês devem animar e apoiar, alvinegros. Porque hoje, tanto quanto o goleiro Felipe e seus milagres, é o artilheiro com cara de pistoleiro e amigo de fé salvador que vocês devem reverenciar. Que papelão, Fiel, até os frios jornalistas da gelada Folha de S.Paulo de hoje perceberam o tamanho da ingratidão.
Deu assim na Folha: “Grosso, lento, símbolo do time corintiano considerado por muitos dirigentes do clube como o pior da história. Mas decisivo. Nas últimas rodadas, Finazzi, 34, tem sido o herói de uma equipe limitada tecnicamente que tenta, a duras penas, escapar do rebaixamento...

O atacante passou a partida toda disputando bolas com os zagueiros rivais. Passou os 90 minutos sem ter uma chance sequer. Só aos 47min, de carrinho, ele conseguiu finalizar.
Foi comemorar no banco de reservas, com o técnico Nelsinho. Enquanto abraçava os companheiros, a torcida gritava enlouquecida. Mas não o nome dele. Isso não aconteceu no Pacaembu lotado ontem.

Pouco antes, quando o goleiro Felipe foi à área e quase marcou de cabeça, ele foi ovacionado pelos corintianos nas arquibancadas e nas numeradas...”
Fica esperto, Corinthians, tá na hora de lustrarem a estrela dourada da botina de seu único matador. Ou vocês acham que o Lulinha, aquele que mascarou e amarelou no Pan (uhn, amarelar no Pan é dose...), ou o Dentinho vão decidir? Ou o Vampeta?

Nesse futebol tão cheio de falsas estrelas, mercenários e chinelinhos (estas 3 categorias costumam vir num pacote só...), a corinthianada devia é venerar esse herói sangue bom, verdadeiro caixeiro viajante da bola, Finazzi. Um cara que roda o Brasil todo (*) e vai parar no Parque São Jorge, aos 34 anos, pra salvar o time do rebaixamento, merecia no mínimo uma estátua na Fazendinha. Símbolo de um time medíocre? Não, mais herói ainda por isso mesmo, porque fazer um gol atrás do outro tendo como assistentes um bando de pernas de pau aumenta ainda mais o valor do grande Finazzi. Põe ele nos ombros, Fiel! E escutem no player que coloquei lá em cima o hino desse grande romeiro!

(*) Carreira de um matador
2007 – S.C.
Corinthians - São Paulo (SP)
2007 - Ponte Preta - Campinas (SP)
2006 - Fortaleza - Fortaleza (CE)
2005 - Atlético Paranaense - Curitiba (PR)
2005 - Paulista de Jundiaí - Jundiaí
2005 - América F.C - S.J.Rio Preto (SP)
2004 - Santa Cruz - Recife (PE) - 10 Jogos/10Gols
2004 - A.B.C - Natal (RN) - 02 Jogos/02 Gols
2003 - Omya Ardijha (Japão) - 11 Gols
2003 - Fortaleza E.C - Fortaleza (CE) - 05 Gols
2002 - Fortaleza E.C - Fortaleza (CE) - 13 Gols
2002 - Goiás E.C - Goiânia (GO) - 09 Gols
2002 - Fortaleza E.C - Fortaleza (CE) - 14 Gols
2001 - Goiânia E.C - Goiânia (GO) - 18 Gols
2001 - Fortaleza E.C - Fortaleza (CE) - 11 Gols
2000 - Sochaux (França) - 07 Gols
2000 - Goiânia E.C - Goiânia (GO) - 11 Gols
1999 - S.E. Gama - Brasilia (DF) - 06 Jogos/03 Gols
1999 - Goiânia E.C - Goiânia (GO) - 27 Jogos/17 Gols
1998 - Novo Hamburgo - Novo Hamburgo (RS) - 09 Jogos/07 Gols
1996/97 - São Paulo F.C - São Paulo (SP) - 05 Jogos/08 Gols
1993/95 - Cursando Faculdade de Engenharia
1991/92 - Guarani F.C - Campinas (SP)
1991 - Palmeiras F.C - São João da Boa Vista(SP) - 05 Jogos/05 Gols

(**) Dados do site
http://www.futebolinterior.com.br (isso mesmo, é o site do nosso grande Élcio, o homem das rosas de Campinas e grande apaixonado pelo futebol!)

domingo, 4 de novembro de 2007

O verdadeiro amor é todo dia

















Futebol americano. Quando famosos e arrogantes astros abandonam o time em busca de "merecidos" salários milionários, é a vez dos substitutos entrarem em campo. Porque o grande campeonato da vida não pode parar.
Os novos jogadores chegam desacreditados, desvalorizados. O desafio é constante. Só os melhores podem vencer. Eles são talentosos. Jogadores amadores. Da vida.
Belos guerreiros se entregam ao sonho. União, garra e vontade impulsionam. A equipe se consolida, se fortalece no mesmo ideal. Time feito com o pulsar de um só coração. Luta, obstinação. Verdadeiras lições de vida. Intensa e poderosa como a mais bela jogada do futebol-arte que resiste ao tempo da superficialidade, descrença e incompreensão. [sobre o filme Virando o jogo, com Keanu Reeves, 2001].

Numa sala de aula, nossos professores-heróis são os grandes responsáveis pela vitória do time, composto de pequenas, mas brilhantes estrelas. Eles apontam o caminho. Mostram que é possível vencer. São eles que começam a construção da estrada de nossas vidas.
Algumas aulas são difíceis de acompanhar. É preciso percepção, atenção. As aulas parecem cenas de teatro. O professor-artista, no palco e na vida, interpreta, canta, recita versos. Emociona, se emociona. Mas, poucos conseguem alcançar, se deixar envolver. Poucos compreendem as jogadas feitas com o coração.
O professor acredita, se entrega... Dá aulas para ninguém. O futebol-arte perde a força. As palavras se tornam um pranto, que ecoa, sem ninguém prestar atenção.
"Jovens, não vou pedir para me ouvirem. Não vou pedir que façam os exercícios, ou leiam os livros que vão cair no vestibular. Não vou pedir que estudem. Nem vou pedir que alguém me respeite. Vai de cada um... E, quando digo que não sou professor, quero dizer que ensinar é uma ilusão. Os senhores nunca aprenderão nada, se não estiverem dispostos. Os senhores serão apenas o que quiserem ser" (Valfrides, o professor-artista, no dia em que os alunos fizeram piquenique no fundo da sala, no colégio Liceu Santa Cruz, 2001).
[POR THAÍNA PARMA]

Fusca


















O carro mais vendido de todos os tempos. O primeiro carro popular, talvez o único (bem diferente dos caros veículos 1.0 de hoje). O carro mais simpático e amado da história, quase um ser vivo para seus donos.
Quem nunca teve um talvez não entenda a saudade que nos dá quando vemos um por aí e lembramos da bravura e resistência do bicho. Porque um fusca raramente nos deixava na mão.

Os motivos da paixão transcendem o pouco conforto, tecnologia obsoleta, motor mais poluente e a baixa velocidade alcançada por ele (em comparação aos carros evoluídos). Deve ter algo a ver com suas formas arredondadas – os “quilinhos a mais” de um típico gordão simpático - e com aquele capô sorridente de amigão bochechudo sempre no maior astral.
Nenhum outro carro teve tão claramente um rosto humano no capô. Por isso aquele desenho animado, do fusca Wilie - que buzinava quando estava feliz e precisava enfrentar um bando de motocas invejosas – nos cativava tanto. E dá para esquecer o inesquecível Herbie dos cinemas, o 007 dos fusquinhas?
E o que dizer daquela direção grande e levantada, com jeito de buzão? E aquela caçamba depois do banco de trás que fazia caber o impossível: mais gente! E aquele tradicionalíssimo modelo de cor vinho?
O fusca sempre foi tão mágico que conseguiu ser o único ato digno do facínora Adolf Hitler. Ele encomendou um carro popular (para 4 pessoas, veloz e com preço accessível) para o brilhante projetista austríaco, Ferdinand Porsche, em 1933. O protótipo ficou pronto em 1935 e logo foi um sucesso. Nasceu assim o primeiro fusca, o Volkswagen (nome alemão para “carro do povo”).
Em 1959 o fusca começou a ser produzido por aqui nos anos JK e apaixonou o Brasil.
A evolução tecnológica (e o objetivo da Volkswagen de abrir espaço para o Gol) sabotariam o amado fusquinha de motor 1300 cc e seu irmão caçula valentão, o fuscão de 1500 ou 1600 cc. Em 1986 o carro pára de ser produzido no Brasil e logo no mundo todo (só durou mais no México). Assim tentaram matar o mais humano dos carros que sobrevive, no entanto, em cada garagem que bate um coração saudosista e talvez mais carinhoso, em relação a quem só espera desempenho (e paga caro por isso). Pobre mundo ultra-moderno...

* O fusca teve uma sobrevida no Brasil ao ser produzido de novo entre 1993 e 96 por ordem do presidente Itamar Franco, apaixonado por ele e pela ex-namorada e melhor amiga, Lisle Lucena, que tinha um fusquinha verde que ela amava e não vendia de jeito nenhum.

* A canção “Fuscão Preto”, de Almir Rogério, foi um dos maiores sucessos populares no Brasil e inspirou o filme de mesmo nome, com Xuxa no elenco.


* Texto publicado na revista Venice, na seção Clássicos. Só que lá não tinha esse clip irado que coloco abaixo do desenho do fusquinha Wilie, sensacional!
(ZÉ AUGUSTO DE AGUIAR)